A dívida técnica pode ser um problema, mas também uma solução para o desenvolvimento de software. Saiba fazer a gestão dela, no artigo!
A gestão de dívidas técnicas está entre os principais desafios que as equipes de desenvolvimento enfrentam. É comum que ela seja negligenciada pela crença de que não vai atrapalhar o uso de um software. Porém, essa suposição está equivocada e pode representar riscos sérios para todos os envolvidos.
Uma dívida técnica pode afetar a funcionalidade do software, a eficiência do desenvolvimento, a satisfação do cliente e até mesmo a reputação da empresa. Pensando nesses riscos, trouxemos esse artigo para explicar a importância de gerenciar a dívida técnica, além de fornecer dicas valiosas para uma gestão eficiente. Boa leitura!
O que é uma dívida técnica?
Dívida técnica (ou technical debt) é um termo usado na engenharia de software para descrever um débito criado para agilizar a entrega de um projeto ou suas funcionalidades. Dessa forma, a prioridade se concentra na velocidade da entrega e não necessariamente na qualidade final do produto.
Para simplificar, é como se fosse uma dívida financeira, em que é feito um empréstimo. Nesse sentido, quanto mais a empresa demora para quitar a dívida, maiores serão os percentuais de juros.
Esse tipo de dívida surge quando os desenvolvedores decidem tomar atalhos para entregar um software mais rapidamente, como é o caso de pular testes de qualidade ou deixar bugs conhecidos sem correção. Essas soluções rápidas podem aumentar o risco de erros e dificultar a manutenção do código-fonte, gerando retrabalhos futuros.
Por outro lado, é importante dizer que a dívida técnica não é sempre uma vilã do desenvolvimento de software. Em alguns casos, pode até mesmo ajudar as empresas. Porém, para isso ser possível, é essencial que os desenvolvedores façam a gestão proativa desse débito, corrigindo novos problemas e evitando soluções que possam criar problemas futuramente.
Exemplo de dívida técnica
Suponhamos que o seu cliente seja contratante de um software personalizado e solicite uma nova funcionalidade. Ele deixa claro que é uma urgência e precisa dessa função pronta em oito dias, mas o seu desenvolvedor informa que uma tarefa dessa complexidade precisa de pelo menos duas semanas de prazo.
E agora, o que fazer? É nesse contexto que nasce uma dívida técnica. Para entregar o produto no tempo do cliente, o desenvolvedor deixa de lado alguns aspectos importantes do projeto, como, por exemplo, performance ou segurança.
Com isso, a empresa consegue entregar a funcionalidade no prazo, mas compromete a qualidade e experiência do contratante. A partir daí, é preciso fazer manutenções, monitoramento, corrigir bugs, entre outros. Tudo isso com a funcionalidade já em uso pela empresa do cliente.
Tipos de dívidas técnicas
Há mais de um tipo de dívida técnica, sendo possível classificá-los de diferentes maneiras, dependendo do contexto e das características do projeto. Uma forma habitual de classificar as dívidas técnicas é de acordo com a sua origem, e neste caso, é possível considerar os seguintes tipos:
Imprudente intencional
A dívida técnica imprudente intencional ocorre quando os desenvolvedores escolhem, de forma consciente, uma solução de baixa qualidade ou deixam de seguir as melhores práticas. Esse tipo de ação não costuma ocorrer por preguiça ou má intenção, mas sim por pressão dos clientes e de prazos.
Imprudente não intencional
Essa dívida técnica é uma escolha consciente e responsável, mas que ainda assim têm custos futuros. Ela ocorre quando os desenvolvedores escolhem um atalho técnico, mesmo tendo plena consciência de suas consequências. Geralmente, essa decisão é tomada para poupar tempo.
Consciente intencional
Esse tipo de dívida técnica é similar a anterior, mas não envolve decisões tomadas com plena consciência do erro. Ela ocorre quando os desenvolvedores não conseguem identificar a melhor solução para um determinado problema ou não são capazes de antecipar as possíveis consequências de suas ações.
Consciente não intencional
Este tipo de dívida técnica ocorre quando os desenvolvedores são incapazes de identificar as consequências de suas ações, mas ainda assim tomam decisões que resultam em uma dívida técnica. Dessa forma, na maioria das vezes, essa dívida técnica é uma escolha inconsciente.
A importância de fazer a gestão de uma dívida técnica
Dívidas técnicas são parte do processo de desenvolvimento de um software. No entanto, é preciso se atentar à necessidade de fazer a gestão eficiente desses recursos para garantir a qualidade e a sustentabilidade do software no longo prazo.
Algumas das principais razões pelas quais é importante gerenciar a dívida técnica inclui:
Reduzir o custo de manutenção
Quando o software tem uma dívida técnica significativa, o custo de manutenção pode ser elevado. Isso ocorre porque as soluções de curto prazo podem gerar problemas que exigem mais tempo e esforço para corrigir problemas.
Ao fazer a gestão dessa dívida técnica, é possível reduzir o custo de manutenção ao longo do tempo, facilitando a correção de falhas e erros, e melhorando a eficiência do produto.
Melhorar a qualidade do software
A dívida técnica geralmente resulta em código de baixa qualidade, que apresenta bugs, problemas de desempenho ou outras falhas que podem afetar a experiência do usuário. Nesse contexto, é importante gerir as ações para melhorar a qualidade do software e garantir que o produto atenda às necessidades do cliente de forma mais efetiva.
Aumentar a agilidade do desenvolvimento
Pode ser difícil implementar novos recursos ou melhorias em um software com uma dívida técnica alta. Isso ocorre, pois os desenvolvedores precisam gastar mais tempo corrigindo problemas já existentes.
Daí surge a necessidade de aumentar a agilidade do desenvolvimento, permitindo que os responsáveis implementem novas funcionalidades com mais rapidez.
Maior flexibilidade
A dívida técnica também pode limitar a capacidade do sistema de se adaptar às mudanças do mercado e às necessidades dos usuários. Ao efetuar uma gestão eficiente da dívida técnica, um dos objetivos é aumentar a flexibilidade e a capacidade do sistema de se adequar às necessidades dos usuários.
Como fazer a gestão de uma dívida técnica
Mas afinal, como fazer a gestão de uma dívida técnica? Esse processo pode variar dependendo do contexto, tipo de dívida ou necessidade do cliente. Porém, ao cumprir as seguintes etapas, será possível manter um sistema confiável e sustentável:
Identificação
O primeiro passo é identificar quais são as áreas em que há dívida técnica em um software e fazer uma lista. Recomenda-se dividir as informações por tipo de dívida, e que cada nova pendência encontrada seja adicionada ao documento.
Monitoramento
Em seguida, é importante acompanhar de perto a evolução de cada dívida técnica da lista, medindo as métricas relevantes. Isso permite ter um controle maior da situação e ajuda a priorizar a correção dos problemas.
Pagamento
O pagamento da dívida técnica envolve a correção das áreas problemáticas. Dessa forma, é preciso definir um plano de ação para a correção das áreas afetadas, evitando prejudicar o usuário.
Priorização
A priorização das áreas de dívida técnica envolve a análise da gravidade do problema e a sua vitalidade para o negócio. O objetivo é identificar as áreas que precisam de reparação imediata e quais podem esperar um pouco mais.
Comunicação
Por fim, deve-se tornar visível o processo de gestão da dívida técnica para as partes interessadas, como gestores, desenvolvedores e usuários. Essa etapa pode incluir explicar os problemas encontrados e qual o plano de ação para quitar as dívidas, por exemplo.
Vantagens e desvantagens de criar dívidas técnicas
A criação de dívidas técnicas implica em vantagens e desvantagens para a empresa. Por isso, é importante equilibrar o uso desse recurso com as necessidades de longo prazo do projeto.
Vantagens
Agilidade: aderir a uma dívida técnica pode permitir que um projeto seja entregue mais rapidamente. Isso permite que os desenvolvedores evitem gastos de tempo e recursos, ou decepcionem o cliente;
Foco no Produto: em alguns casos, esse recurso possibilita que os desenvolvedores concentrem a sua atenção no desenvolvimento de recursos que sejam mais importantes, gerando maior valor para o produto;
Custo mais baixo: a criação de uma dívida técnica pode permitir que os custos de desenvolvimento sejam reduzidos a curto prazo, pois os recursos são alocados de forma mais eficiente.
Desvantagens
Aumento de custos: o acúmulo de dívidas técnicas pode aumentar os custos de desenvolvimento a longo prazo, devidos aos gastos gerados para corrigir as falhas do projeto;
Redução da qualidade: outra desvantagem é a perda da qualidade geral do produto, resultando em erros, falhas e bugs contínuos que podem afetar o uso do software;
Atrasos e interrupções: dívidas técnicas podem levar a atrasos e interrupções no desenvolvimento, pois as equipes precisam dedicar tempo para corrigir problemas técnicos.
É possível evitar dívidas técnicas?
De forma geral, não é possível evitar dívidas técnicas, especialmente em projetos de software complexos. No entanto, pode-se minimizar a quantidade de dívidas e gerenciar melhor o seu impacto.
Algumas estratégias para diminuir dívidas técnicas, são:
- Utilizar padrões de codificação, convenções e arquiteturas bem definidas;
- Fazer uso de ferramentas de gerenciamento de código;
- Revisar o código periodicamente para identificar e corrigir problemas;
- Priorizar a qualidade do código e da arquitetura;
- Manter a equipe atualizada;
- Estabelecer uma cultura de qualidade.
Dicas para uma gestão de dívidas técnicas eficiente
Aqui estão algumas dicas para uma boa gestão de dívidas técnicas:

Identifique a dívida técnica: É essencial que a equipe de desenvolvimento saiba identificar quando uma dívida técnica está sendo criada. Isso pode ser feito através de revisões de código, análise estática de código e outros processos de revisão de qualidade. Além disso, é necessário criar uma lista atualizada de dívidas técnicas, classificando-as por grau prioridade e impacto no projeto.

Estabeleça um plano de pagamento: Os desenvolvedores devem estabelecer um plano de ação para pagar cada dívida técnica. Isso pode incluir refatorar o código, corrigir bugs e realizar testes automatizados. É importante que a equipe priorize as dívidas técnicas de acordo com a sua relevância e trabalhe para eliminá-las o mais rápido possível.

Defina prioridades: É importante que a equipe de desenvolvimento priorize a eliminação de dívidas técnicas de acordo com a sua importância para o projeto. Isso significa que dívidas que afetam a funcionalidade crítica do sistema devem ser resolvidas primeiro. As dívidas técnicas menos críticas podem ser adiadas para mais tarde.

Acompanhe o progresso: A equipe de desenvolvimento deve acompanhar o progresso na resolução das dívidas técnicas e atualizar regularmente a lista de pendências para que todos estejam cientes do progresso. Também é importante que o time se esforce para manter a qualidade do código ao longo do tempo, evitando a criação de novos débitos.

Tenha uma equipe de desenvolvimento eficiente: O time de desenvolvedores é a alma do projeto e pode colaborar para impedir a criação de dívidas técnicas desnecessárias. É vital que essa equipe seja composta por profissionais capacitados e que os líderes trabalhem para a retenção desses talentos.
Algumas dívidas técnicas são inevitáveis. Saber gerenciá-las é a maneira mais inteligente para garantir a entrega das demandas e, ao mesmo tempo, assegurar que o software seja sustentável a longo prazo. Quer uma ajuda profissional para diminuir a dívida técnica da sua empresa? Entre em contato e fale com um de nossos especialistas!